sábado, 4 de agosto de 2012

O banco do ônibus...

Outro dia escrevi sobre a minha necessidade de manifestar mais meus sentimentos. Tantos os bons quanto os ruins...Mas hoje eu vou relatar um fato vivi essa semana onde a minha paciência e meu silêncio me retribuiram muito positivamente. Depois de um dia de trabalho cansativo ao extremo, cheio de abacaxis e outras frutas, subi em um ônibus relativamente vazio. Tinha opção de escolha. Mas sentei em um banco qualquer, sem pensar. Acontece que era daqueles que tem tipo um "braço" ou grade do lado. Acontece também que a senhora já sentada na janela estava longe da mesma e meio atravessada no banco com sacolas no colo e uma delas entre a janela e seu corpo. Só percebi isso depois de sentar. Tentei ficar o máximo que pude na direção do corredor, mas estava meio impossível. Como se não bastasse ela me empurrava cada vez mais pra fora, presionando o corpo de acordo com as curvas do ônibus. A essa altura, não sobravam mais lugares. Cheguei a pensar em ir de pé com meu salto alto latejando...mas peraí!!! A digníssima senhora, muito bem vestida e maquiada, parecia ter passado a tarde fazendo compras, eu estava trabalhando o dia inteiro e pensava ir 40 minutos de pé para deix´-la mais a vontade?  E meu propósito de falar mais, de me defender mais??? Fiquei firme, sendo empurrada, ouvindo resmusgos, tomando cotoveladas e pesando com meus botões porque as pessoas andam assim, tão folgadas, mal educadas, sem respeito algum ao direito do próximo...Abri minha boca diversas vezes pra pedir licença, olhei diversas vezes para me certificar que ela carregava uma sacola entre a janela e ela, como se pra impedir mesmo que sobrasse espaço no banco, me senti um lutador de boxe e MMA treinando a esquiva para evitar as cotoveladas no rosto. Fiquei com a marca da grade ao lado do corpo. Eu ia pensando que estava tudo perdido mesmo, não existe mais respeito, as pessoas só pensam em si, querem levar vantagem em tudo. Se ela tivesse muito cheia de sacolas, eu mesmo me ofereceria pra ajudar, mas não era o caso. Era uma sacola de uma loja de roupas que esteve em promoção essa semana, não estava cheia. Foi posta ali para evitar que alguém sentasse mesmo. Mas eu não vi antes. Teria evitado minha indignação silenciosa, a minha raiva contida. Ela fazia questão de tentar me tirar do banco durante todo o percurso, mexendo na bolsa, comendo e espalhando farelos em mim,jogando o pacote pela janela, falando alto ao celular,  com o braço levantado no meus rosto, e eu tentando sublimar, fechando os olhos. A cada curva, quase deitava no meu colo pra me empurrar. kkkk Agora eu posso até rir da cena de comédia pastelão de periferia. Mas na hora estava mesmo estragando meu dia e abalando minha fé na humanidade. Já fiquei divagando sobre se vale mesmo a pena colocar mais filhos no mundo, com as pessoas ignorantes que andam por aí, fiquei triste mesmo e a única coisa que fiz, foi não ceder. Mas fiquei pensando em mil coisas, "vou empurrar tbm"( o que fiz algumas vezes aproveitando as curvas...kkk), vou dizer isso ou aquilo, quando levantar vou xingar...mas ficava me policiando, medindo se valeria a pena, o que eu ganharia...? Me lamentava pela injustiça e iria embora engolindo toda a minha raiva daquela senhora tão mal educada, com aquela atitude ignorante. Quando peguei minha bolsa pra levantar do banco e descer...achei que ainda levaria uma sacolada, pois ela ergueu  a sacola que a deixava distante da janela e tirava espaço do banco e, tendo eu mal levantado, ela jogou onde eu estava sentada, com um resmungo indecifrável... e eu além de indignada, furiosa comigo por não fazer nada! Por que eu não disse nada, eu estava no direito de sentar ali, o banco não era só dela, como pareceu ser a sua intenção. Se tivesse outro assento, com certeza eu sairia, abriria mão, como faço muito, para evitar qualquer confronto. Pensava eu, enquanto me dirigia pra porta, o que eu estava ganhando com isso? Com o silêncio, cedendo sempre??? O que eu ganho meu Deus??? Mas bem, foi bem nesse momento que tive uma resposta e é só por ela que estou relatando tudo isso aqui. Uma outra senhora, sentada em outro banco, que eu nunca vi na vida assim com a primeira, e que com certeza, não tinha percebido nada do meu suplício, me lançou um sorriso tão lindo, tão luminoso, nossa...um rosto simples, humilde até, visivelmente cansado, olhou pra mim e sorriu de uma maneira que me atingiu com um força tão poderosa, tão difícil de explicar! Do nada. Só me olhou e sorriu, sem dizer nada. Mas foi um sorriso que parecia um presente naquele momento. Ela se comunicou comigo muito abertamente naquela hora. Respondeu todas as minhas perguntas. Por que, tentem entender: ela não sorriu porque ficamos nos olhando, e as vezes acontece. Quando levantei a cabeça e a olhei, ela já estava me olhando e sorrindo. Era um sorriso diferente, era uma resposta a toda a minha indignação. Imaginem um sorriso de uma pessoa amiga ou que te ama, te admirando, falando do seu amor com o sorriso...foi assim. A porta do ônibus abriu e minha reposta mecânica foi avançar e descer. Mas eu esqueci instantâneamente de todo mal que a nobre senhora em dia de compras, havia me causado. Eu estava me sentindo elevada com aquele presente, eu não lembrava mais do sentimento tão ruim que me dominava antes daquele sorriso tão bonito, tão sincero e gratuito. Eu pude ter a certeza da escolha da minha conduta. Paciência e resignação às vezes têm recompensas. Perceber e dar valor ao que importa é o segredo. Naquele momento foi. Pra mim. Não sei se verei aquele sorriso de novo, mas se encontra-lo de novo, gostaria de poder agradecer. Se em tudo isso,me arrependo de algo, é dessa parte que não fiz.